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Foto do escritorDarlan Reis

Como deve ser um jovem comunista

Ernesto Che Guevara


Discurso em comemoração ao segundo aniversário da integração das Organizações Juvenis, 20 de outubro de 1962.


"Queridos companheiros:


Uma das tarefas mais gratificantes para um revolucionário é ir observando, no decorrer dos anos de Revolução, como se vão formando, purificado e fortalecendo as instituições que nasceram no início da Revolução, como se convertem em verdadeiras instituições com força, vigor e autoridade entre as massas aquelas organizações que começaram em pequena escala, com muitas dificuldades, com muitas indecisões e foram se transformando, mediante o trabalho diário e o contato com as massas, em pujantes representações do movimento revolucionário de hoje.


A União de Jovens Comunistas tem quase a mesma idade que a nossa Revolução, através dos diferentes nomes que a integraram e das diferentes formas de organização. No princípio foi uma emanação do Exército Rebelde. Dali, talvez, surgiu também seu nome. Era uma organização ligada ao exército para iniciar a juventude cubana nas tarefas de massas na defesa nacional, que era o problema mais urgente e o que precisava de uma solução mais rápida.


No antigo Departamento de Instrução do Exército Rebelde nasceram a Associação de Jovens Rebeldes e as Milícias Nacionais Revolucionárias. Depois adquiriram vida própria. Esta última era uma pujante formação do povo armado e com categoria própria, fundida com nosso exército nas tarefas de defesa. A outra era uma organização destinada à elevação política da juventude cubana.


Depois, quando a Revolução foi consolidando-se, e podemos então estabelecer as novas tarefas que se veem no horizonte, o companheiro Fidel sugeriu a mudança de nome desta organização. Uma mudança de nome que é toda uma expressão de princípios. A União de Jovens Comunistas está diretamente orientada para o futuro. Está articulada com vistas ao futuro luminoso da sociedade socialista, depois de percorrer o caminho difícil em que estamos agora – que é a construção de uma nova sociedade no caminho de consolidação total da ditadura de classe, expressa através da sociedade socialista –, para alcançar finalmente a sociedade sem classes, a sociedade perfeita, a sociedade em que vocês serão os encarregados de construir, de orientar e de dirigir no futuro.


Para isso, a União de Jovens Comunistas levanta seus símbolos, que são os símbolos de todo o povo de Cuba: o estudo, o trabalho e o fuzil.

E em suas medalhas aparecem dois dos mais altos expoentes da juventude cubana, ambos tragicamente mortos, sem poderem ver o resultado final desta luta em que todos estamos empenhados: Júlio Antônio Mella e Camilo Cienfuegos.

Neste segundo aniversário, nesta hora de construção febril, e constantes preparativos para a defesa do país, de preparação técnica e tecnológica acelerada ao máximo, deve-se colocar sempre, e antes de mais nada, o problema do que é que deve ser a União de Jovens Comunistas.


A União de Jovens Comunistas tem de se definir com uma só palavra: vanguarda de todos os movimentos. Os primeiros a estarem prontos para os sacrifícios que a Revolução exige, qualquer que seja a natureza destes sacrifícios. Os primeiros no estudo. Os primeiros na defesa do país.

E estabelecer esta tarefa não só como a expressão total da juventude de Cuba, não só como uma tarefa de grandes massas articuladas em uma instituição, mas como as tarefas diárias de cada um dos integrantes da União de Jovens Comunistas. Para isso, é necessário estabelecer tarefas reais e concretas, tarefas de trabalho cotidiano que não podem admitir o menor desânimo.


A tarefa da organização deve estar constantemente unida a todo trabalho que se desenvolva na União dos Jovens Comunistas. A organização é a chave que permite fortalecer as iniciativas que surgem dos líderes da Revolução, as iniciativas reiteradas vezes colocadas por nosso primeiro-ministro, e as iniciativas que surgem no seio da classe operária, que devem se transformar em diretrizes precisas, em ideias precisas para ação subsequente.


Se não existe a organização, as ideias, depois do primeiro momento de estímulo, vão perdendo eficácia, vão caindo na rotina, no conformismo e acabam por ser simplesmente uma lembrança.

Faço esta advertência porque muitas vezes neste curto período, e no entanto tão rico, de nossa Revolução, muitas das grandes iniciativas fracassaram, caíram no esquecimento por falta de aparato organizativo necessário para sustentá-las e levá-las a bom termo.


Ao mesmo tempo, todos e cada um de vocês devem ter claro que ser um jovem comunista, pertencer à União de Jovens Comunistas, não é uma graça que alguém lhes concede, nem uma graça que vocês concedem ao Estado ou à Revolução. Pertencer à União de Jovens Comunistas deve ser a mais alta honra para um jovem da sociedade nova, deve ser uma honra pela qual lutem a cada momento de sua existência. E, além disso, a honra de sustentar-se e sustentar no alto o nome individual dentro do grande nome da União de Jovens Comunistas. De ser um empenho constante também.


Desta forma avançaremos ainda mais rapidamente. Acostumando-nos a pensar como massa, a atuar com as iniciativas que nos oferece a grande iniciativa da classe operária e as iniciativas dos nossos dirigentes máximos; e, ao mesmo tempo, atuar sempre como indivíduos, permanentemente preocupados com que nossos atos não manchem nosso nome da associação a que pertencemos.


Depois de dois anos podemos recapitular e observar quais foram os resultados desta tarefa. E há enormes conquistas na vida da União de Jovens Comunistas. Uma das mais importantes, uma das mais espetaculares, foi a da defesa.


Os jovens que primeiro – alguns deles – subiram os cinco picos de Turquino, os que se engajaram em uma série de organizações militares, todos os que empunharam o fuzil nos momentos de perigo estiveram prontos a defender a Revolução em cada um dos lugares onde se esperava a invasão ou a ação inimiga.

Aos jovens da Praia Girón coube a grande honra de poder defender ali nossa Revolução, defender as instituições que criamos com sacrifício, as conquistas que todo o povo conseguiu ali em setenta e duas horas de luta.


A intenção do inimigo era criar uma cabeça de praia suficientemente forte, com um aeroporto, que permitisse hostilizar todo o nosso território, bombardeando sem misericórdia, um concerto para reduzir nossas fábricas em cinzas, reduzir a pó nossos meios de comunicação, arruinar nossa agricultura; numa palavra: semear o caos em nosso país. A ação decidida de nosso povo liquidou a intentona imperialista em apenas setenta e duas horas.


Jovens que ainda eram crianças se cobriram de glória. Alguns estão aqui hoje, como expoentes dessa juventude heroica, e de 27 outros nos resta pelo menos o nome como lembrança, como incentivo para novas batalhas que serão travadas, para novas atitudes heroicas frente ao ataque do imperialista.

No momento em que a defesa do país era a tarefa mais importante, a juventude esteve presente. Hoje, a defesa do país continua ocupando o primeiro lugar em nossos deveres. Mas não devemos esquecer que a palavra de ordem que orienta os Jovens Comunistas está intimamente ligada entre si: não pode haver defesa do país somente no exercício das armas, prontas para a defesa, mas, além disso, devemos defender o país construindo-o com o nosso trabalho e preparando os novos quadros técnicos para acelerar o desenvolvimento nos anos vindouros. Agora, esta tarefa adquire uma enorme importância e está no mesmo nível do exercício direto das armas.


Quando se apresentaram problemas como este, a juventude disse “presente” uma vez mais. Os jovens das brigadas responderam ao chamado da revolução, invadiram todos os lugares do país. E assim, em poucos meses e numa batalha bastante dura, – onde houve inclusive mártires da educação – podemos anunciar uma situação nova na América: a de que Cuba era um território livre do analfabetismo.


O estudo, em todos os níveis, é também hoje uma tarefa da juventude. O estudo misturado com trabalho, como no caso dos jovens estudantes que estão colhendo café no Oriente, que utilizam suas férias para colher um grão tão importante em nosso país, para o nosso comércio externo, para nós, que consumimos uma grande quantidade de café todos os dias. Esta tarefa é similar à da alfabetização. É uma tarefa de sacrifício que se desempenha alegremente, reunindo-se os companheiros estudantes – mais uma vez – nas montanhas de nosso país para levarem aí mensagem revolucionária.


Estas tarefas são muito importantes porque nelas a União de Jovens Comunistas, os jovens comunistas não se limitam a dar. Recebem, e em alguns casos mais do que dão, adquirindo experiências novas, uma nova experiência do contato humano, novas experiências de como vivem nossos companheiros, de como é o trabalho e a vida nos lugares mais distantes, de tudo que é necessário fazer para elevar estas regiões ao mesmo nível dos lugares mais habilitados do campo e das cidades. Adquirem experiência e maturidade revolucionárias.


Os companheiros que passam por estas tarefas de alfabetizar ou colher café, em contato direto com o nosso povo, ajudando-o longe de seus lares, recebem – posso afirmá-lo – mais do que dão, e o que dão é muito.


Esta é a forma de educação que melhor se ajusta a uma juventude que se prepara para o comunismo: a forma de educação na qual o trabalho perde a categoria de obsessão que tem no mundo capitalista, e passa a ser um gratificante dever social, que se realiza com alegria, que se realiza ao som de cânticos revolucionários, em meio à camaradagem mais fraternal, em meio a contatos humanos que dão vigor a alguns, e a todos elevam.


Além disso, a União de Jovens Comunistas avançou muito em sua organização. Daquele débil embrião que se formou como apêndice do Exército Rebelde até essa organização de hoje, há uma grande diferença. Em todos os lugares, em todos os centros de trabalho, em todos os organismos administrativos, em todos os lugares onde possa exercer sua ação, há jovens comunistas trabalhando pela Revolução.


O avanço organizativo deve também ser considerado como uma conquista importante da União de Jovens Comunistas.


Contudo, companheiros, neste caminho difícil houve muitos problemas, têm havido muitas dificuldades, erros grosseiros, e nem sempre temos conseguido superá-los. É evidente que a União de Jovens Comunistas, como organismo menor, como irmão menor das Organizações Revolucionárias Integradas, tem que aproveitar aí as experiências dos companheiros que mais trabalharam em todas as tarefas revolucionárias, e deve escutar sempre – e com respeito – a voz da experiência.


Mas a juventude tem que criar. Uma juventude que não cria é uma anomalia, realmente. E à União de Jovens Comunistas tem faltado um pouco de espírito criador. Tem sido, através de sua direção, demasiado dócil, demasiado respeitosa e pouco decidida a colocar problemas próprios.


Hoje, está se acabando com isso. O companheiro Joel nos falava das iniciativas dos trabalhos nas granjas. São exemplos de como se começa a acabar a dependência total – que se torna absurda – de um organismo maior, como se começa a pensar com a própria cabeça.


Mas acontece que nós, e nossa juventude, estamos convalescendo de uma doença que, felizmente, não foi muito longa, mas influiu muito no atraso do desenvolvimento do aprofundamento ideológico de nossa Revolução. Estamos todos convalescentes deste mal que se chama sectarismo.


A que conduziu o sectarismo? Conduziu à cópia mecânica, às análises formais, à separação entre a direção e as massas. Até mesmo em nossa Direção Nacional, e o reflexo direto se produziu aqui na União de Jovens Comunistas.


Se nós – também desorientados – pelo fenômeno do sectarismo não conseguíamos ouvir a voz do povo, que é voz mais sábia e mais orientadora, se não conseguíamos perceber as aspirações do povo para poder transformá-las em ideias concretas, em diretrizes mais precisas, mal poderíamos dar essas diretrizes à União de Jovens Comunistas. E como a dependência era absoluta, como a docilidade era muita grande, a União de Jovens Comunista navegava como pequeno barco sem rumo.


Aqui se realizavam pequenas iniciativas – a única coisa que a União de Jovens Comunistas era capaz de produzir –, as quais, às vezes, se transformavam em slogans grosseiros, em evidentes manifestações ideológicas.


O companheiro Fidel fez sérias críticas aos extremismos e às expressões, algumas bastante conhecidas de todos vocês, como, por exemplo: “a ORI (Organizações Revolucionárias Integradas) é a candeia...”, “somos socialistas, em frente, em frente...”. Todas aquelas coisas que Fidel criticou, e que vocês conhecem bem, eram do reflexo do mal que atacava nossa Revolução.


Saímos dessa etapa. Ela foi totalmente liquidada. Contudo, os organismos andam sempre um pouco mais lentamente. É como uma doença que houvesse deixado uma pessoa inconsciente. Quando este mal cede, o cérebro recupera a clareza mental, mas os membros ainda não coordenam bem seus movimentos. Nos primeiros dias, depois de levantar-se do leito, o andar é inseguro e pouco a pouco vai-se adquirindo nova segurança. Nós estamos nesse caminho.


Assim devemos definir e analisar objetivamente todos os nossos organismos para continuarmos melhorando. Saber, para não cairmos, para não tropeçarmos e ir ao chão; conhecer nossas debilidades para aprender a resolvê-las, conhecer nossas fraquezas para liquidá-las e adquirir mais força.

Esta falta de iniciativa própria se deve ao desconhecimento, durante um bom tempo, da dialética que move os organismos de massa, e ao esquecimento de que os organismos, como a União de Jovens Comunistas, não podem ser algo que constantemente dê diretrizes às bases e que não receba nada delas.


Pensava-se que a União de Jovens Comunistas e todas as organizações de Cuba eram organizações de uma só linha. Uma só linha, que ia desde a direção até as bases, mas que não tinha um cabo de retorno que trouxesse a comunicação das bases. Um duplo e constante intercâmbio de experiências, de ideias, de diretrizes, que vêm a ser as mais importantes, as que fizeram centrar o trabalho de nossa juventude.


Ao mesmo tempo, podiam ser observados os pontos onde o trabalho esteve mais frouxo, os pontos em que fraquejara mais.


Contudo, nós vemos como os jovens, quase heróis de novela, podem entregar sua vida cem vezes pela Revolução e que, ao serem chamados para qualquer tarefa concreta e esporádica, marcham em massa até elas. Todavia, às vezes faltam ao seu trabalho porque tinham uma reunião da União de Jovens Comunistas, ou porque se deitaram tarde na véspera, discutindo alguma iniciativa dos Jovens Comunistas, ou simplesmente não vão ao trabalho, sem causa justificada.


Quando se observa uma brigada de trabalho voluntário, onde se imagina que estão os Jovens Comunistas, em muitos casos não há. Nem um. O dirigente tinha que ir a uma reunião, o outro estava doente, um terceiro não havia sido bem informado. E o resultado é que a atitude fundamental, a atitude de vanguarda do povo, a atitude de exemplo vivo que comove e empurra todo mundo para frente – como fizeram os jovens da Praia de Girón –, esta atitude não se repete no trabalho. A sociedade que deve ter a juventude de hoje para enfrentar os grandes compromissos – e o compromisso maior é a construção da sociedade socialista – não se reflete no trabalho concreto.


Há grandes debilidades e é preciso trabalhar nelas. Trabalhar organizando, trabalhar marcando o lugar onde dói, o lugar onde há debilidades a corrigir, e trabalhar sobre cada um de vocês para deixar bem claro em suas consciências que não pode ser um bom comunista aquele que somente pensa na Revolução quando chega o momento do sacrifício, do combate, da aventura heroica, do que sai do vulgar e do cotidiano e, no entanto, no trabalho é medíocre ou menos que medíocre.


Como isso pode ser possível, se vocês já têm o nome de Jovens Comunistas, o nome que nós, como organização dirigente, partido dirigente, ainda não temos. Vocês que têm de construir um futuro no qual o trabalho será a honra máxima do homem, um dever social, um prazer que o homem se dá, onde o trabalho será criativo ao máximo e todo o mundo deverá estar interessado no seu trabalho e no dos outros, no avanço da sociedade, dia a dia.


Como pode ser possível que vocês, que hoje já têm esse nome, desdenham o trabalho. Aí há uma falha. Uma falha de organização, de esclarecimento, de trabalho. Uma falha, além disso, humana. A todos nós – acredito que a todos – agrada muito mais aquilo que quebra a monotonia da vida, aquilo que de repente, de vez em quando, faz alguém pensar no seu próprio valor, no valor que tem dentro da sociedade.


E imagino o orgulho daqueles companheiros que estavam defendendo sua pátria dos aviões ianques, e de repente alguém tinha a sorte de ver que suas balas alcançavam um avião inimigo. Evidentemente é o momento mais feliz de um homem. Isso nunca se esquece. Os companheiros que viveram esta experiência nunca se esquecerão.


Mas nós temos que defender nossa Revolução, a que estamos fazendo todos os dias. E para poder defendê-la, é necessário ir construindo-a, fortalecendo-a com o trabalho que hoje não agrada à juventude, ou que, pelo menos, ela considera como o último de seus deveres, porque ainda conserva a mentalidade antiga, a mentalidade proveniente do mundo capitalista, ou seja, que o trabalho é mais um dever e uma necessidade tristes.


Por que isso acontece? Porque ainda não demos ao trabalho seu verdadeiro sentido. Não fomos capazes de unir o trabalho ao objeto de seu trabalho. E, ao mesmo tempo, não fomos capazes de dar ao trabalhador a consciência da importância que tem o ato criativo que dia a dia realiza.


O trabalhador e a máquina, o trabalhador e o objeto sobre o qual se exerce o trabalho são duas coisas diferentes e antagônicas. E aí é necessário trabalhar, para ir formando novas gerações que tenham o máximo interesse em trabalhar e saibam encontrar no trabalho uma fonte permanente, e constantemente em mudança, de novas emoções. Fazer do trabalho algo criador, alvo novo.

Este é talvez o ponto mais fraco da nossa União de Jovens Comunistas. Por isso hoje saliento este ponto, e em meio à alegria de festejar esta data de aniversário, volto a colocar a pequena gota de amargura para tocar o ponto sensível, para fazer a juventude reagir.


Hoje estivemos em uma assembleia em que se discutia a emulação do Ministério. Muitos de vocês provavelmente já tenham discutido a emulação nos seus centros de trabalho e talvez tenham lido um terrível papel que está circulando. Mas qual é o problema da emulação, companheiro? O problema é que a emulação não pode ser regida por papéis que a regulamentem, a ordenem e lhe deem uma forma. O regulamento e a forma são necessários para poder comparar, depois, o trabalho das pessoas entusiasmadas que se está emulando.


Quando dois companheiros começam a competir, cada um em uma máquina, para produzir mais, depois de um tempo começam a sentir a necessidade de algum regulamento para determinar qual dos dois produz mais em sua máquina: a qualidade do produto, a quantidade, as horas de trabalho, a forma em que fica a máquina depois, como trataram dela, enfim, muitas coisas. Mas, se em vez de se tratar de companheiros que efetivamente competem e aos quais nós vamos dar um regulamento, aparece um regulamento para outros dois que estão pensando quando é que chega a hora de ir para casa, para que serve o regulamento, que função cumpre?


Em muitas coisas estamos trabalhando com regulamento e fazendo molde para algo que não existe. O molde tem que ter um conteúdo, o regulamento tem que ser, nestes casos, o que defina e limite uma situação já criada. O regulamento deveria ser o resultado da emulação levada a cabo anarquicamente, se querem, mas de forma entusiasmada e transbordante para todos os centros de trabalho de Cuba. Automaticamente surgirá a necessidade de regulamentar, de fazer uma emulação com regulamento.


Assim temos tratado muitos problemas, assim temos sido formais no tratamento de muitas coisas. E quando nesta assembleia perguntei por que não havia estado, ou quantas vezes havia estado, o secretário dos Jovens Comunistas, soube que havia estado algumas vezes, poucas, e que os Jovens Comunistas não haviam estado.


Mas no transcurso da assembleia, discutindo este e outros problemas, os Jovens Comunistas, o núcleo, a Federação de Mulheres, os Comitês de Defesa e o Sindicato, naturalmente, se encheram de entusiasmo, pelo menos se encheram de um remorso interno, de amargura, de um desejo de melhorar, um desejo de demonstrar que eram capazes de fazer aquilo que não se havia feito: movimentar as pessoas. Então, de repente, todos se comprometeram a fazer com que todo o Ministério emulasse em todos os níveis, a discussão do regulamento, depois de estabelecer as emulações, e voltar, dentro de quinze dias, para apresentar já todo um fato concreto, com todo o Ministério se emulando entre si.


Ali já há mobilização. As pessoas já compreendem e sentiram intimamente – porque cada companheiro desses é um grande companheiro – que havia algo de frouxo em seu trabalho. Sentiram-se feridos em sua dignidade e agiram. Isso é o mais importante. Perdoem-me se insisto mais uma vez, mas é que sem trabalho nada existe. Toda a riqueza do mundo, todos os valores que tem a humanidade, não são nada mais que o trabalho acumulado. Sem isso nada pode existir. Sem o trabalho extra que se dá para criar mais excedentes para novas fábricas, para novas instalações sociais, o país não avança. E, por mais fortes que sejam nossos exércitos, estaremos sempre com um ritmo lento de conhecimento, e é preciso acabar com isso, acabar com todos os velhos erros, manifestá-los publicamente, analisá-los em cada lugar e, então, corrigi-los.


Quero colocar agora, companheiro, qual é a minha opinião, a visão de um dirigente nacional das ORI, sobre o que deve ser um jovem comunista.


Eu acho que a primeira coisa que deve caracterizar um jovem comunista é a honra que sente por ser jovem comunista. Esta honra que o leva a mostrar para todo o mundo sua condição de jovem comunista, que não se submete à clandestinidade, que não o reduz a fórmulas, mas que ele manifesta a cada momento, que lhe sai do espírito, que tem interesse em demonstrar porque é o seu símbolo de orgulho.


Junto com isso, um grande senso de dever para com a sociedade que estamos construindo, com nossos semelhantes como seres humanos e com todos os homens do mundo. Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista.


Ao lado disso, uma grande sensibilidade frente a todos os problemas, grande sensibilidade diante da injustiça; espírito inconformado sempre que surja algo ruim vindo de quem quer que seja. Colocar em discussão tudo o que não se compreender; discutir e pedir que deixem claro o que não estiver; declarar guerra ao formalismo, a todos os tipos de formalismo. Estar sempre aberto para receber as novas experiências, para se ajustar à grande experiência da humanidade, que leva muitos anos avançando pela senda do socialismo, as condições concretas de nosso país, as realidades que existem em Cuba: e pensar – todos e cada um – como ir mudando a realidade, como torná-la melhor.


O jovem comunista deve propor-se a ser sempre o primeiro em tudo, lutar para ser o primeiro, e sentir-se incomodado quando em alguma coisa ocupa outro lugar. Lutar para melhorar, para ser o primeiro. Claro que nem todos podem ser o primeiro, mas podem estar entre os primeiros, no grupo de vanguarda. Ser um exemplo vivo, ser o espelho onde se olhem seus companheiros que não pertençam às juventudes comunistas, ser o exemplo onde possam se olhar os homens e as mulheres de idade mais avançada que perderam certo entusiasmo juvenil, que perderam a fé na vida e que diante do estímulo do exemplo sempre reagem bem. Essa é outra tarefa dos jovens comunistas.


Junto com isso, um grande espírito de sacrifício, um espírito de sacrifício não somente para as jornadas heroicas, mas para todo momento. Sacrificar-se para ajudar os companheiros nas pequenas tarefas, para que possa assim cumprir seu trabalho, para que possa cumprir com seu dever no colégio, no estudo, para que, de qualquer maneira, possa melhorar. Estar sempre atento a toda a massa humana que o rodeia.


Ou seja, o que se propõe a todo o jovem comunista é que seja essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime daquilo que há de melhor no ser humano, que purifique o melhor do homem por meio do trabalho, do estudo, do exercício da solidariedade permanente com o povo e com todos os povos do mundo, desenvolver ao máximo a sensibilidade até se sentir angustiado quando se assassina um homem em qualquer lugar do mundo e se sentir entusiasmado quando em algum lugar do mundo se levanta uma nova bandeira de liberdade.


Che, 1960, foto de Osvaldo Salas


O jovem comunista não pode estar limitado pelas fronteiras de um território; o jovem comunista deve praticar o internacionalismo proletário e senti-lo como coisa própria. Aperceber-se, como devemos nos aperceber todos nós aspirantes a comunistas aqui em Cuba, que somos um exemplo real e palpável para toda a nossa América, para outros países do mundo que lutam também em outros continentes por sua liberdade, contra o colonialismo, contra todas as formas de opressão dos sistemas injustos: aperceber-se sempre que somos uma tocha acesa, que somos o mesmo espelho que cada um de nós é individualmente para Cuba, e somos esse espelho para que se olhem nos povos da América, os povos do mundo oprimido que lutam por sua liberdade. E devemos ser dignos desse exemplo. A todo momento e a toda hora devemos ser dignos deste exemplo.


Isso é o que nós pensamos que deve ser um jovem comunista. E se nos dissessem que somos românticos, que somos uns idealistas inveterados, que estamos pensando em coisas impossíveis e que não se pode conseguir que a massa de um povo seja quase um arquétipo humano, nós temos de responder, mil vezes, que sim, que se pode, que estamos no caminho certo, que todo o povo pode ir avançando, e liquidando a mesquinhez humana, como fomos liquidando em Cuba nestes quatro anos de Revolução; ir se aperfeiçoando como fomos nos aperfeiçoando dia a dia, liquidando intransigentemente, todos aqueles que ficaram atrás, que não são capazes de marchar no ritmo que marcha a Revolução cubana. Tem de ser assim, deve ser assim, e assim será, companheiros. Será assim porque vocês que são jovens comunistas, criadores da sociedade perfeita, seres humanos destinados a viver em um mundo novo de onde haverá desaparecido definitivamente tudo o que é caduco, todo o velho, tudo o que represente a sociedade cujas bases acabam de ser destruídas.


Para conseguir isso, é necessário trabalhar todos os dias. Trabalhar no sentido interior de aperfeiçoamento, de aumento dos conhecimentos, de aumento da compreensão do mundo que nos rodeia. Inquirir, averiguar e conhecer bem o porquê das coisas e colocar sempre os problemas da humanidade como problemas próprios.


Assim, em um dado momento, em um dia qualquer dos próximos anos – depois de passar por muitos sacrifícios, sim, depois de havermos estado, talvez, à beira da destruição –, depois de havermos visto, talvez como nossas fábricas são destruídas e depois de reconstruí-las novamente, depois de assistir ao assassinato, à matança de muitos dos nossos e de reconstruir o que tiver sido destruído, ao fim de tudo isso, num dia qualquer, quase sem nos darmos conta, teremos criado, junto como os outros povos do mundo, a sociedade comunista, nosso ideal.


Companheiros, é uma enorme tarefa falar à juventude. A gente se acha, nesse momento, capaz de transmitir algumas coisas e sente a compreensão da juventude. Há muita coisa que queria dizer sobre todos os nossos esforços e anseios. A maneira como, todavia, muitos deles acabam diante da realidade diária e como é necessário voltar ao início. Dos momentos de fraqueza e de como o contato com o povo – com os ideais e a pureza do povo – nos infunde novo fervor revolucionário.


Haveria muitas coisas a dizer. Mas também temos que cumprir com os nossos devedores. E aproveito para explicar-lhes porque me despeço de vocês: porque vou cumprir com o meu dever de trabalhador voluntário numa fábrica têxtil; lá estamos trabalhando desde algum tempo. Estamos competindo com a Empresa Consolidade de Hillados e Tejidos Planos, que trabalha em outra fábrica têxtil, e com a Junta Central de Planificação, que trabalha em outra fábrica têxtil.


Quero dizer-lhes, honestamente, que o Ministério da Indústria está em último lugar na emulação, que temos de fazer um esforço maior, constantemente, para avançar, para poder cumprir com aquilo que nós mesmos afirmamos, isto é, que somos os melhores, aspiramos a ser os melhores, porque nos dói ser os últimos na emulação socialista.


Acontece, simplesmente, que aqui ocorreu o mesmo que a muitos de vocês: a emulação é fria, um pouco artificial, e não temos sabido entrar em contato direto com a massa de trabalhadores da indústria. Amanhã teremos uma assembleia para discutir esses problemas e para tentar resolvê-los, buscar os pontos de união, estabelecer uma linguagem comum, de identidade absoluta entre os trabalhadores dessa indústria e nós trabalhadores do Ministério. E depois de conseguir isso, estou seguro de que aumentaremos muito os rendimentos, e de que, pelo menos, poderemos lutar honradamente pelos primeiros lugares.


Em todo caso, na próxima assembleia, no ano que vem, lhes contaremos e resultado. Até lá".


Fonte: Che Guevara - Socialismo e Juventude. São Paulo: Editora Anita, 2002.

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