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Foto do escritorFábio Queiroz

As eleições municipais e o caso de Fortaleza

Por Fábio José Queiroz, historiador






Ao abordar as eleições municipais, dificilmente não daríamos como justas as palavras de Baruch Spinoza, quando, grosso modo, ele dizia que, colocados em certas situações, não devemos nem rir nem chorar, mas compreender. Logo, deixemos o choro livre para os derrotados e o riso para os arlequins das redes sociais, e nos esforcemos para entender a luta política em curso e a sua expressão no processo eleitoral.


A tática da extrema direita e a esquerda socialista


A tática da extrema-direita foi buscar se posicionar da melhor maneira possível para tentar recuperar o governo federal daqui a dois anos.


O PL colocou para si a tarefa de conquistar mais de mil prefeituras. Conseguiu pouco mais da metade disso. Mas se compararmos com as vitórias do PT, nesse pleito, a bancada de prefeitos do Partido Liberal é praticamente duas vezes maior do que a do partido do presidente Lula da Silva.


Antes disso, o setor da esquerda socialista que trabalha com as dificuldades da situação política, sem jamais minimizá-las, colocou para si as tarefas de derrotar a extrema-direita e fortalecer a esquerda, levando em conta não apenas de onde estamos vindo e para onde estamos nos conduzindo, mas, particularmente, onde nos encontramos no momento.


Perante a tática da extrema-direita, poderíamos ou simplesmente apresentar a estratégia revolucionária e, portanto, o alvo estratégico do nosso programa como tática, desprezando a situação concreta, ou, apoiando-nos em uma análise cuidadosa da realidade objetiva, apresentar uma tática que respondesse a essa situação concreta, e, por conseguinte, fosse mais eficaz para o reforço da nossa estratégia. Ficamos, certamente, com a segunda, até porque a primeira, de fato, não era uma tática, mas uma mera abstração, um diversionismo.


Aqui cabe inclusive um parêntese. Entendemos que a tática mais revolucionária não é que a reproduz a estratégia ipsis litteris, mas a que busca responder - objetiva e concretamente - ao que realidade reclama a cada momento. E o que a realidade taticamente reclama é o máximo de unidade da esquerda frente à avalanche da ultradireita, notadamente de sua vertente neofascista, ainda que os revolucionários não devam jamais, em nome da unidade, silenciar as suas críticas e apagar as suas diferenças.


Nessa expectativa, foi bastante acertada a atitude política do PT de, por exemplo, apoiar Boulos (PSOL), em São Paulo, desde o primeiro turno. Essa tática se repetiu em outros lugares, mas em outros ela foi olimpicamente ignorada, seja por um ou outro partido.


Evidentemente, essa tática de unidade política da esquerda não pode ser entendida como uma estratégia que se repete mecanicamente em todos os lugares e em todas as situações. Ela decorre de uma análise fria e meticulosa de cada caso. No entanto, a situação política geral não deixa de ser uma baliza importante.


Isso expresso, estamos indo ao segundo turno em grandes cidades brasileiras e, em cada uma delas, precisamos adotar a unidade da esquerda e estabelecer os compromissos necessários para assegurar a vitória contra os candidatos da extrema-direita.


O caso de Fortaleza


Seguramente, São Paulo estará no centro do foco da mídia, dos partidos políticos e da militância, inclusive do campo da esquerda. Mas não é de São Paulo que quero tratar neste restante do texto. Quero abordar outro caso, o de Fortaleza.


A capital cearense foi a primeira do país, ao fim da ditadura empresarial-militar, a eleger um forte quadro da esquerda para o mais alto cargo municipal: Maria Luiza (então no PT), em 1985. Depois disso, houve o fenômeno Luizianne Lins (PT), eleita em 2004 (contra a vontade de Lula e do seu partido) e reeleita em 2008. Desde então, o “cirismo” tomou de conta do Paço Municipal.


Agora, a polarização nacional engoliu o “cirismo” e se traduziu na arena local. Fortaleza terá um segundo turno com um bolsonarista raiz (André Fernandes do PL) e Evandro Leitão (um petista de última hora).


Diante desse quadro, em que a decisão será tomada por eleitores e eleitoras em menos de três semanas, a esquerda deveria ou não se unir em torno do petista de última hora contra o bolsonarista raiz?


A vitória do candidato do PL não significa apenas o triunfo de um fascista para comandar a segunda maior capital do Nordeste, mas implica no fortalecimento do projeto da família Bolsonaro em recuperar o centro do poder político federal. Há derrotas e vitórias, mas há umas que têm maior peso que outras. O caso de Fortaleza, sem dúvida, estaria nesse marco político.


Os que separam a economia da política, certamente vão apelar para o “reformismo quase sem reformas” do PT, para pôr sinal de igual entre os reformistas e os fascistas do século XXI.


Seguramente, os sectários só reconhecem duas cores – o branco e o preto – e certamente acalentarão o senso comum de que as alternativas políticas postas são iguais, até porque terão onde se refugiar na hipótese de um endurecimento do regime político, mas as amplas massas trabalhadoras não terão onde se esconder.


É para essas massas que deveremos nos dirigir: só elas poderão derrotar a extrema-direita, apesar das hesitações e inações da esquerda moderada, a quem essas massas, ainda que, muitas vezes, com o nariz tapado, depositam o seu voto.


A esquerda socialista, que não perde o prumo nem desatina, precisa se colocar no campo político dos que podem derrotar, ainda que apenas eleitoralmente, as forças fascistas que querem se apoderar do Palácio João Brígido.


Não temos em mãos nada parecido com a Maria Luiza nem com a Luizianne, é verdade, mas, mesmo assim, sem qualquer vacilação, não deveríamos ir de Evandro Leitão? A vida política diz que sim. Portanto, deixemos as boas lembranças para dias melhores e não permitamos que a nostalgia nos paralise. A luta de classes do presente nos impõe uma tarefa: derrotar o fascista do PL. Para isso, no dia 27 de outubro, em Fortaleza, é preciso votar 13, sem ambiguidades, sem falsos dilemas, sem vacilações.

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