Por Darlan Reis Jr, Historiador
A iniciativa de estudar a obra "O Capital", de Karl Marx, muitas vezes é permeada por críticas sobre seu conteúdo, por pessoas que geralmente nem a leram. Parece incrível, mas é o que acontece. Em outros casos, a densidade da obra, seu tamanho e repercussão causam temores em quem pretende encarar o desafio. Como dizia o próprio Marx, "Em toda ciência, o difícil é o começo".
"Todo começo é difícil, e isso vale para toda ciência. Por isso, a compreensão do primeiro capítulo, em especial da parte que contém a análise da mercadoria, apresentará a dificuldade maior. No que se refere mais concretamente à análise da substância e da grandeza do valor, procurei popularizá-las o máximo possível" (1).
Pensando nisso, realizamos no Núcleo de Estudos em História Social e Ambiente (NEHSA), sessões de estudo sobre "O Capital". O NEHSA é um grupo de pesquisa, cadastrado no CNPq, que realiza investigações sobre a História Social e Ambiental, além de reuniões para o estudo de obras relevantes do ponto de vista teórico. Neste sentido, quinzenalmente procuramos discutir coletivamente, nossos entendimentos sobre "O Capital". Passaremos a divulgar algumas impressões a partir das leituras realizadas.
Para quem ainda não começou a leitura, apresentamos algumas questões introdutórias, que visam desmistificar seu conteúdo.
A obra está dividida em 03 tomos. Conforme nos explica Jacob Gorender, na apresentação escrita para a edição da Boitempo (2), de O Capital, os dois primeiros tomos são dedicados ao capital em geral, o terceiro, sobre a concorrência entre os capitais concretos.
No livro 1, o capital é analisado no processo de produção, na criação do mais-valor, na sua acumulação, em relação direta com a exploração da força de trabalho assalariado. No livro 2, são discutidas e analisadas a circulação e a reprodução do capital social total, sua flutuação e movimento. No livro 3, é analisada a distribuição do capital, a concorrência.
O que isso significa? Significa que o capital tem uma história, ele não existe de forma apriorística, ele é uma relação social. Nem o dinheiro, nem as mercadorias, são por si sós, capital. Para se tornarem capital, são necessárias circunstâncias históricas que se defrontam. Portanto, o capital não é apenas uma "coisa", mas sim uma relação social que toma a "forma de coisas". E por que isso é importante? Sob a forma do capital, os meios se transformam em instrumento de dominação da burguesia, na subordinação dos trabalhadores aos capitalistas.
É importante destacar de saída a questão, pois a categoria é uma das mais apropriadas indevidamente, ou manipulada, pelas ideologias capitalistas, pela Economia Política burguesa. Teorias essas que tentam desvincular os conceitos centrais da historicidade, evitam algumas até a utilização do termo "capitalismo".
Ao estudarmos "O Capital" de forma coletiva, procuramos entender a categoria central explicativa, o capital, para assim termos uma das chaves explicativas do Modo de Produção Capitalista.
No próximo dia 27 de novembro realizaremos a discussão do Livro1, em seu primeiro capítulo - A Mercadoria. Segundo Marx, " A riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma “enorme coleção de mercadorias” e a mercadoria individual como sua forma elementar. Nossa investigação começa, por isso, com a análise da mercadoria".
Pretendemos trilhar o caminho do estudo coletivo. É o que faremos.
Referências
(1) Prefácio da Primeira Edição, Londres, 25 de julho de 1867.
(2) GORENDER, Jacob. Apresentação. In: MARX, Karl. O Capital - Crítica da Economia Política. Livro 1 - O processo de produção do capital. Tradução Rubens Ederle. São Paulo: Boitempo, 2011.
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