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Um Brasil ajoelhado diante de seu inimigo


Bolsonaro. (FOTO/ Reprodução/AnotaBahia).

Por Nicolau Neto, professor


Todo dia uma notícia que ferra com a população, especialmente as mais carentes de tudo. Alta constante nos preços dos combustíveis que, como um jogo de xadrez, qualquer peça mexida causa um estrago enorme. O aumento exorbitante nos preços dos combustíveis acarreta por sua vez, alta nos medicamentos, na alimentação, nas vestimentas, no gás de cozinha e em outros elementos essenciais para sobrevivência. Imagina como está sobrevivendo uma família com 5 ou seis filhos/as com rendimento mensal de menos de um salário mínimo?


Tudo isso em país que tem uma empresa de petróleo estatal. O presidente já trocou alguns de seus integrantes algumas vezes e jura que nada tem a ver com isso. É serio isso? Sim. Mas o pior é que tem quem ainda compre esse discurso.


Somado a essas catástrofes, temos os cortes de recursos em áreas sensíveis, como educação e saúde. É costumeiro notícias de que as universidades estão sucateadas por falta de recursos ao tempo de que somos informados da compra de viagra para militares das forças armadas. Mas para o presidente da república “isso é nada”. Enquanto militares estão com viagras e afirmam que é para tratar hipertensão, artigo publicado em 24 de abril deste ano na Revista Fórum constatou que pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) sofrem com a falta deste e outros medicamentos.


Mas de volta a educação. Uma aberração tratando do ensino domiciliar foi aprovada pela Câmara Federal. O tema era proposta de campanha e uma das prioridades do presidente. Em vez de tratar a educação escolar com prioridade e investir na estrutura das escolas e outros assuntos correlatos, o presidente e seus fieis escudeiros preferem eleger a comunidade escolar como inimiga. A gente sabe bem o motivo.


A cultura, sucateada no período imediato ao golpe com Temer, agora sucumbiu. É preferível armas ao conhecimento; é preferível armas as manifestações culturais.


Os órgãos representativos e idealizadores de políticas públicas para as maiorias que são minorias nos espaços de poder (leia-se negros/as e indígenas), como a Fundação Cultural Palmares e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) foram entregues a pessoas totalmente alheias ao processo. Não se pode esquecer também dos constantes ataques as instituições que dão sustentação constitucional ao regime democrático por parte do presidente e de considerável parte de sua equipe. Algo assim, só em regimes altamente autoritários como o fascismo.


Esse é o retrato do Brasil. Mas há um silêncio estarrecedor por parte de “intelectuais”, “influenciadores digitais”, professores/as e artistas. Parece até que a música do Zé Geraldo, “Milho aos Pombos”, foi escrita pensando nesse momento. “Entra ano, sai ano, cada vez fica mais difícil o pão, o arroz, o feijão, o aluguel.... Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos...”.


A população, por sua vez, “bestializada”, para parafrasear o historiador José Murilo de Carvalho, assiste a tudo. Não está sendo capaz de pensar, de se articular para ir às ruas pedir a saída imediata desse ser que, infelizmente está ocupando o palácio do planalto. Seus principais opositores que deveriam estar na linha de frente desse processo não querem. Preferem usar o único meio que conhecem e dominam tão bem: o processo eleitoral. Para esses, a única saída é só essa. E agente sabem bem que não é.


Enfim, o Brasil está ajoelhado diante do inimigo. Para usar a expressão do filósofo alemão Heidegger e atribuída também ao ativista político estadunidense Martin Luther King Jr “o que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”

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